Vivemos em uma sociedade em que se prega o aprisionamento e a morte do corpo. Amarrados às nossas cadeiras de escritórios, atados aos cintos de segurança, viciados na mecanicidade dos ferros que enrigessem, jogados no sofá com um suposto controle nas mãos, conformados em aguardar o horário da próxima pílula ou dose de açúcar, consumidos pelos aparelhos eletrônicos que sugam nossos hormônios sagrados, nos tornamos escravos até da própria inteligência artificial.
Mas não existe poder de atração sem a liberdade do corpo, sem a energia que flui através de nosso sangue, nossos fluidos e nossos movimentos. A sabedoria hermética diz corretamente que o universo é mental, mas isso é mal interpretado. A mente está em todo o corpo e cada órgão tem uma sabedoria autônoma que até nossa consciência ignora. O universo é mental e a mente é o corpo inteiro. Quando engessamos o corpo, portanto, engessamos a mente.
A verdadeira sabedoria oculta trabalha a energia erótica do corpo, que nada mais é do que a energia criativa, criadora, capaz de causar mudanças na realidade, seja através do amor, das artes, da ciência ou da técnica.
Para aqueles que realmente desejam se tornar criadores libertos é necessário um retorno ao templo. Não o templo de concreto e aço, da moral formatada, da palavra morta, mas o templo do movimento, o templo vivo do próprio corpo.
Não há fórmulas para reativar esse poder atómico vibrante que flui em cada uma de nossas células, mas todo começo é bem vindo. Práticas intencionais de mudança da respiração, movimentos livres, dança, exercícios físicos conscientes e não mecânicos, caminhada ao ar livre, jejuns, ingestão de magnésio e certas vitaminas, chás com ervas de cura, alimentação não industrial, abraço, toque, expressão da sexualidade, bem como outras mais radicais que não pretendo expor aqui, são bem-vindas na devoção ao templo, que é o corpo.
O nosso próprio cérebro se desenvolveu para se adaptar às nossas necessidades de movimento e movimento é vida.
Um corpo enrigecido é uma mente enrigecida, conformada, subserviente.
Não seremos criadores até que as energias estejam aptas a fluir através de nós. A quebra de rotina é bem-vinda, o movimento das lágrimas também. E se alguém te pegar fazendo um exercício espontâneo ou dançando e quiser rir de você, deixe que riam.
Não há cura para a ansiedade, a depressão e tantos outros transtornos sem uma mudança radical do corpo, certas práticas de movimentoe poucos psicanalistas dirão isso. Não há pílula que cale um corpo que deseja se expressar, mudar, causar mudança.
O templo é vivo e exige devoção.
Há muito mais conhecimento que podemos acessar, esse é apenas um começo.
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Artigo escrito por Fernanda Gaiotto Machado
